O reajuste médio de 10,28% das tarifas de pedágio no Paraná, que entra em vigor dia 01 de dezembro, vai refletir na competitividade dos setores de indústria, comércio e serviços e deve trazer impactos para a inflação. O aumento ainda deve provocar aumento do frete e repasse para o preço final de diversos produtos, o que acaba chegando ao bolso do consumidor.
“Este aumento do pedágio está encerrando um ciclo de aumentos expressivos nos preços administrados no Paraná que inclui Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), tarifa de água e de energia elétrica”, destacou o economista Cid Cordeiro. Ele lembrou que isso tudo tem se refletido para Curitiba ocupar a posição de maior inflação do país entre as regiões metropolitanas pesquisadas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Segundo ele, o peso do pedágio representa 0,11 ponto percentual no IPCA, o que traria um impacto de 0,01% para a inflação. No entanto, ele destacou que, para quem usa o pedágio semanalmente, por exemplo, o impacto na renda é bem maior. Ele prevê que, com as novas tarifas de pedágio, o frete pode subir até 2,5%.
Cordeiro disse que todo reajuste de tarifa pública deveria contemplar um redutor que leve em conta meta de eficiência e produtividade. Ele lembrou que a polêmica maior é sobre a origem dos contratos de pedágio que já foram questionados por CPIs e tiveram recomendações do Tribunal de Contas da União (TCU) para reduzir os valores, mas que estão judicializados.
Ele lembrou ainda que os contratos têm uma indexação com o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M). Essa indexação, segundo ele, cria o perigo da inércia inflacionária, que é a inflação do passado alimentando a inflação do futuro.
O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), Sérgio Malucelli, disse que o aumento do pedágio vai implicar no custo operacional do transporte. Segundo ele, isso será repassado, com certeza, para o frete e, por consequência, para o consumidor final. “Ainda não sabemos quanto será o impacto para o frete”, disse.
Ele disse ter conhecimento que existem obras importantes para o setor de transportes que as concessionárias de pedágio precisam realizar, mas lembrou que há a necessidade urgente de renegociar os contratos para reduzir as tarifas. “O repasse do custo do frete deve acontecer de forma imediata”, afirmou.
O economista, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e especialista em concessões públicas e Parcerias Público-Privadas (PPPs), Gabriel Galípolo, disse que o ideal é que as concessionárias de pedágio não tenham desequilíbrio econômico financeiro dos contratos, mas que reponham a defasagem provocada pela inflação ao longo do período de 12 meses.
No entanto, ele lembrou que, toda vez que ocorre aumento de custos de pedágio é repassado para outros setores. Segundo ele, este reajuste que entra em vigor hoje, com certeza, terá reflexo na inflação. “Como o transporte é fundamental para outros setores, trará impacto na inflação”, prevê.
A Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) foi procurada pela reportagem, mas informou que não iria comentar o reajuste das tarifas. No entanto, a entidade reiterou que o atual modelo de pedágio é nocivo para os usuários. A Fiep defende a realização de novas licitações de concessão, com um modelo melhor para os usuários e realização de obras no início dos contratos. A Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), informou que preferia esperar a divulgação das novas tarifas para comentar o assunto.
Neste ano, o aumento anual autorizado por concessionária vai variar de 6,69% a 7,05%, entretanto, com a aplicação da revisão tarifária (para cobrir custos de obras não previstas em contrato, como viadutos e duplicações ou que tiveram cronograma antecipado), o reajuste médio nas tarifas chega ao total de 10,28%. O índice é mais que o dobro do ano passado, quando a média ficou em 4,88%.